quinta-feira, 8 de outubro de 2020

OFICINA 1: História da África e Educação Antirracista pelos tambores do Olodum

 

Foto: Olodum/Divulgação

Olá pessoal!! O "Tem Música na Aula de História” vem hoje apresentar a sua primeira Oficina do Blog. Nosso objetivo é trabalhar com a História da África ligado a resistência anti-racista. Para isso, nada melhor do que contarmos com a ajuda do Grupo Cultural OLODUM. A Oficina será dividida em duas aulas e trabalhará com a música "Madagascar Olodum". Essa música foi lançada em 1987, sendo considerada um dos marcos do movimento musical "samba-reggae" na Bahia.  Agora vamos ouvir a música no ritmo do samba reggae e aprender História com os tambores do Olodum!



     



Criaram-se vários reinados o Ponto de Imerinas ficou consagrado
Rambozalama vetor saudável
Ivato cidade sagrada
A rainha Ranavalona
Destaca-se na vida e na mocidade
Majestosa negra soberana da sociedade
Alienado pelos seus poderes
Rei Radama foi considerado
Um verdadeiro Meiji
Que levava seu reino a bailar
Bantos, Indonésios, árabes
Se integram à cultura malgaxe
A raça varonil alastrando-se pelo Brasil
Sankara Vatolay
Faz deslumbrar toda nação
Merinas, povos, tradição
E os mazimbas foram vencidos pela invenção


Iêêê sakalavas oná ê
Iááá sakalavas oná á
Iêêê sakalavas oná ê
Iááá sakalavas oná á
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor

E viva Pelô Pelourinho
Patrimônio da humanidade ah
Pelourinho, Pelourinho
Palco da vida e negras verdades
E protestos, manifestações
Faz o Olodum contra o Apartheid
Juntamente com madagascar
Evocando igualdade e liberdade a reinar

Iêêê sakalavas oná ê
Iááá sakalavas oná á
Iêêê sakalavas oná ê
Iááá sakalavas oná á
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor

Aiêêê, Madagascar Olodum
Aiêêê, eu sou o arco-íris de madagascar
E eu disse aiêêê, aiêêê, madagascar olodum
Aiêêê, eu sou o arco-íris de Madagascar

Iêêê sakalavas oná ê
Iááá sakalavas oná á
Iêêê sakalavas oná ê
Iááá sakalavas oná á
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor
Madagascar, ilha, ilha do amor

Iêêê sakalavas oná ê
Iááá sakalavas oná á
Iêêê sakalavas oná ê
Iááá sakalavas oná á
Iêêê sakalavas oná ê


Fonte: 
LyricFind
Compositor: Reinevaldo Miranda Da Silva
Letra de Madagascar Olodum © Sony/ATV Music Publishing LLC

      

Então, o que vocês acharam dessa música? Ela foi a música principal do Bloco Olodum no seu desfile do Carnaval de Salvador em 1988, mesmo ano em que o Brasil promulgava a Constituição Cidadã, a primeira após o fim do regime ditatorial militar (1964 - 1985) e também o ano em que oficialmente foi comemorado o Centenário da assinatura da Lei Áurea, que terminou com o trabalho escravo no país. Os autores da música retomam a História da África e fazem uma licença poética acerca dos reinados de Madagascar ao longo do século XIX, marcados pela resistência ao neocolonialismo europeu. 

Logo abaixo temos um Glossário para ajudar a conhecer esses nomes e termos que aparecem na música. Leiam esse glossário e depois voltem na letra da música para compreenderem a mensagem que os autores querem nos dizer.


GLOSSÁRIO

Apartheid: Regime político de separação racial que foi adotado oficialmente na África do Sul entre os anos de 1948 a 1994.

Bantos, Indonésios e árabes: - Grupos étnicos originários da África e da Península Arábica que se misturavam com grupos malaio-indonésios que chegaram à ilha no primeiro milênio da era cristã.

Cultura Malgaxe: Malgaxe é a língua malaio-polinésia falada em Madagascar. Também se refere à cultura dos povos que utiliza o malgaxe como língua principal.

Imerinas: O Reino Merina ou Reino de Madagascar, foi um estado pré-colonial localizado ao largo da costa do Sudeste da África, que, no século XIX, dominou a maior parte do que é agora Madagascar.

Ivato, “cidade sagrada”:  Cidade de Madagascar, próxima da sua capital Antananarivo.

Meiji: Foi o período de quarenta e cinco anos (1867 a 1912) em que o Imperador do Japão “Meiji” implementou uma acelerada modernização econômica, vindo a constituir-se em uma potência mundial.   Na música, faz-se uma analogia entre a modernização Meji e a tentativa de modernização industrial implementada no breve reinado de Radama II (1861 á 1863). 

Mazimbas: Os mazimbas ou “vazimbas” (grafia correta) eram os primeiros habitantes da ilha de Madagascar,.. Segundo a tradição oral, não tinham conhecimento da metalurgia, nem do cultivo do arroz e usavam armas de barro. Este grupo teria desaparecido ou sido incorporados a medida que os demais povos chegaram a ilha.

Pelourinho: Chamado popularmente de "Pelô", é um bairro localizado no centro histórico da cidade de Salvador (BA), que recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 1985 da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, as Ciências e a Cultura). 

Rambozalama: Rei que iniciou a expansão do Reino Merina no território de Madagascar sob o nome real de Adrianampoinimerina (1787 a 1810), anexando os pequenos reinos existentes por meio do poderio militar e diplomático. 

Radama: O último soberano de Merina e principal responsável pela unificação de Madagascar em 1828. Seu reinado foi de 1810 a 1828, sendo sucedido pela esposa Ranavalona I.

Ranavalona: Rainha Merina de Madagascar entre os anos de 1828 e 1861. Sua história como regente tem um misto de nacionalismo, defesa das tradições malgaxes, autoritarismo interno e resistência às investidas de colonização dos europeus que queriam colonizar Madagascar e outras partes da África em seu impulso imperialista.. Depois de sua morte, outras duas rainhas usaram o mesmo nome real, mas com importância política menor que Ranavalona I.

Sankara Vatolay: Um dos grupos étnicos de Madagascar. Unica etnia malgaxe que rivalizou com os merinas em seu auge.



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AULA 1: Conhecendo um pouco sobre a História de Madagascar

Vamos agora conhecer uma parte da História de Madagascar que serviu de inspiração aos compositores da música. Vamos entender melhor esses reinos e personagens. Seria bem legal antes de começar, ler de novo a letra da música e também o glossário.


UMA BREVE HISTÓRIA DE MADAGASCAR

Madagascar é a maior ilha da África, (e a quarta maior do mundo) localizada na costa do Oceano Índico. Nos últimos dois mil anos, Madagascar recebeu ondas de imigração de diversas grupos, incluindo austronésios, bantos, árabes, do sul da Ásia, chineses e europeus. Atualmente, a maioria da população de Madagascar é uma mistura de colonos austronésios, bantos, do norte da Índia, árabes e somalis. Nos tempos antigos, a ilha de Madagascar foi dividida em dezenas de tribos, cada uma com seu próprio reino. Os merina eram os mais numerosos entre eles e realizaram a unificação politica da ilha instituindo a dinastia dos merinas. Contudo, isso só ocorreu após a chegada dos europeus na ilha em fins do século XVIII para o XIX, mediante acordos de comércio envolvendo armas e munições, permitindo assim que o rei merina Radama I completasse a tarefa de consolidação política iniciada por seu pai. 

Radama I procurou modernizar seu reino por meio de uma aliança inicial com os britânicos, aprendendo até a falar inglês e francês, valorizando a administração,  o exército e proibindo a exportação de nascidos na ilha como escravizados. 

Após a sua morte, a sua esposa foi proclamada a nova rainha e adotou o nome de Ranavalona I.  A sua ascensão ao poder revelou-se um retrocesso no que diz respeito aos avanços que Madagascar conquistou sob o pretexto de manter as tradições religiosas e sociais locais que estariam ameaçadas. Ela reverteu a maioria das reformas do antigo rei, incluindo suas punições judiciais mais humanas, em favor de práticas violentas. Os missionários cristãos foram perseguidos e expulsos da ilha e suas instituições médicas e educacionais foram fechadas. Ranavalona I morreu após um reinado de trinta e três anos.

O novo rei, Radama II, adotou uma política nos mesmos moldes anteriores de seu pai. Restabeleceu a maioria de suas reformas, procurando ampliar e modernizar ainda mais o país. A educação tornou-se uma prioridade e os missionários de todas as religiões foram incentivados a voltarem. O rei, a rainha e outros membros da família real tornaram-se cristãos e estabeleceram relações diplomáticas estreitas com a França e a Grã-Bretanha. Suas reformas não foram populares entre a aristocracia local e uma revolta militar resultou no assassinato de Radama II após um breve reinado de dois anos.

Os líderes da revolta foram seus dois irmãos. Rainivoninahitriniony, o irmão mais velho proclamou a viúva de Radama II como a nova rainha, e depois casou-se com ela, assumindo o poder de fato no país como primeiro-ministro. Após sua morte, Rainilairovony, o irmão mais novo, também se casou com a mesma rainha viúva e herdou os cargos de seu irmão. Ele permaneceria como o principal líder político do país até os anos finais da monarquia merina. 

Os últimos anos do século XIX, os governos de Madagascar sofreram fortes pressões do colonialismo francês. Os britânicos haviam se retirado gradualmente seu apoio, e o poder francês estava em ascensão provocando conflitos armados que tiveram forte resistência local. A derrota final das forças merina/malgaxes culminou com a declaração de um protetorado francês em 16 de janeiro de 1896. Pouco mais de um ano depois, o general Gallieni depôs e exilou a rainha Ranavalona III e o primeiro ministro, encerrando o ciclo dos reinados merina. Madagascar tornou-se uma colônia francesa até que alcançou a sua independência como república, em 26 de junho de 1960. 

(texto do autor do Blog)


Agora que você conheceu um pouco da História de Madagascar, vamos aprofundar os conhecimentos através de outras fontes: Mapas de Madagascar, Linha do Tempo, as imagens e o relato de época feito por um viajante estrangeiro retratando como via a ilha.



Mapa que mostra a expansão dos merina entre 1810 a 1840



Veja aqui mais algumas imagens da História de Madagascar



Uma forma bem interessante de conhecer um pouco do passado é lendo as narrativas que os viajantes escreviam em diários ou em longas cartas. Muitos deles tinham o hábito de escrever detalhadamente sobre os lugares que visitavam (já que não existiam as mídias que hoje possuímos para registro). Leia aqui o relato de viagem do frei João dos Santos que esteve em Madagascar no século XVII.



Aqui chegamos no momento de refletir sobre o que foi aprendido. Com a ajuda de seu professor, vamos fazer um debate com as seguintes questões:

1) Temos aqui dois momentos diferentes de registro de imagem da rainha Ranavalona I:

             

Qual é a diferença entre as imagens acima? 
A partir do que você leu, o que cada imagem queria transmitir sobre a rainha Ranavalona I? Com qual objetivo?

E a música "Madagascar Olodum", que você ouviu, utilizou na sua opinião de qual imagem de Ranavalona I?



2) Sobre Madagascar um aspecto que se deve destacar foi a busca de um desenvolvimento nos "padrões europeus" realizados pelos chefes merinas. O historiador Phares Mutibwa escreveu o seguinte comentário:

"Insistiu-se em sustentar que a África foi colonizada porque era pobre e subdesenvolvida. Por isso, merece ser destacado que Madagascar, durante o período estudado (1800 - 1880), por sua vez, empreendeu importantes reformas que, como um almirante inglês observou em março de 1861, fizeram dos malgaxes "uma raça capaz de governar o país, tornando inútil qualquer intervenção de uma nação estrangeira.".

Phares M. Mutibwa. "Madagascar 1800-1880" In: História Geral da África Vol 06. p.516. 

Quando na música os soberanos de Madagascar serem comparados aos meijis, existe para você(s) qual tipo de resistência ao neocolonialismo europeu praticado no século XIX na África?

3) Agora que conhece um pouco mais sobre a História dos reinos de Madagascar, você acha que as lições da música "Madagascar Olodum" resgatados pelos compositores do Bloco Olodum são adequados para a mensagem principal que se propõem a mostrar? 
Conseguiria dar um outro exemplo parecido de reino(s) africano(s)? 
Se sim, por que não mostrar da forma mais criativa possível, como fazer o seu samba-reggae ou montar um roteiro de um imaginário desfile de carnaval ou de qualquer uma outra expressão de manifestação da identidade negra. 


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AULA 2: Conhecendo o Olodum e a sua colaboração para a luta antirracista no Brasil. 


Toda música lançada precisa ser entendida no seu contexto de produção. Vamos aqui dar algumas pistas sobre esta música. O álbum original foi lançado em disco de vinil em 1987. Vamos assistir a um assistir a um pequeno vídeo editado com depoimentos de membros do Olodum que vivenciaram a criação do Bloco nos anos oitenta em Salvador. 


                      CAPA ORIGINAL DO ÁLBUM "EGITO MADAGASCAR"

                         


"EGITO MADAGÁSCAR" - Olodum

Gravadora Continental
Interpretes: Lazinho, Tonho Matéria, Betão e Suka.
Catálogo: 1.01.404.325 (LP); 404.325 (CD)
Ano: 1987

Lista de faixas

  1. Madagáscar Olodum (Rey Zulu) - 4:19
  2. Salvador Não Inerte/ Ladeira Do Pelô (Bobôco/Beto Jamaica; Betão) - 3:28
  3. Olodum Florente Na Natureza (Tonho Matéria) - 4:27 
  4. Raça Negra  (Walmir/Gibi) - 2:59
  5. Um Povo Comum Pensar  (Suka) - 3:43
  6. Arco-Íris De Madagáscar (Tonho Matéria) - 3:27
  7. Reggae Dos Faraós  (Adailton/Valter) - 4:06
  8. Faraó Divindade Do Egito  (Luciano Gomes) - 3:56
  9. Encantada Nação (Betão) - 3:59
  10. Vinheta Cuba-Brasil (Bira Reis) - 3:26

Acima temos a capa e a ficha técnica do álbum do Grupo Olodum com a música "Madagascar Olodum" em destaque na faixa de abertura. Reparem que na listagem das músicas, além da música principal que estamos analisando, temos outras duas com a mesma temática. A faixa 06, "Arco-Íris de Madagascar" e a faixa 09, "Encantada Nação". Vejam que elas se complementam formando uma trilogia que aborda natureza, história, resistência e legado africano. Ainda temos nesse álbum, músicas que remetem ao reino africano do Egito e a colonia espanhola de Cuba que teve revoltas escravas. Também são apresentadas outras canções de temática de conscientização e negritude.



DEPOIMENTOS SOBRE O OLODUM E O SAMBA REGGAE 





Pessoal, agora chegou o momento de pensar sobre o conhecimento que adquirimos através dessa música que mostra uma parte da história de Madagascar, junto com a história do próprio Olodum e de seus compositores e integrantes que assistimos. 
Vamos discutir, com a orientação de seu professor, organizados em pequenos grupos, as questões abaixo:

1) O que o Olodum pretendia ao exaltar, no ano de 1988, marcado pelo centenário da abolição da escravatura no Brasil, o Reino de Madagascar? 

2) Em que contexto histórico (local e mundial) o Olodum surgiu? E como este contexto se relaciona com a resistência ao apartheid na África do Sul e os movimentos negros no Brasil e Estados Unidos.  

3) Você acha que iniciativas como a do Olodum são importantes na luta contra o racismo? Por quê?





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